Folhas secas + água quente = chá. Simples? Não. Nada no Oriente é tão simples. Lá, por trás de um singelo copinho de cerâmica, o yunomi, se esconde um mundo mágico de aromas, porcelanas, requinte... e até chá!
Um bom chá verde tem um certo amargor, não vamos negar. Mas tem também doçura e adstringência. Se for da mais alta qualidade, esses sabores estarão equilibrados. Mas o resultado final, assim como o do café, depende de como a bebida foi preparada e da variedade de chá usada - elas são muitas, como você vai ler abaixo.
Entre os orientais, o hábito de tomar chá verde é milenar, principalmente no Japão, onde as folhas chegaram no século 8. Foram fundamentais para a formação da cultura nacional. No país, o chá verde é assunto tão sério que existe até uma organização mundial sediada na província de Shizuoka, a maior produtora.
O Japão se especializou no preparo e na diferenciação entre os chás verdes. No período Muromachi (do século 14 ao 16), os samurais faziam competições para adivinhar de onde vinha cada chá - nos moldes das provas de vinho às cegas de hoje.
Produzido com folhas da Camellia sinesis, mesma planta com a qual se faz o chá preto, o verde difere-se pelo processamento. Suas folhas não são fermentadas, como as do preto, e sim secas no vapor, um método desenvolvido no século 18, em Uji, onde é possível fazer o roteiro da bebida, próxima à antiga capital Kyoto. Essa técnica previne a oxidação, fazendo com que a folha verde preserve seus nutrientes.
O que permite a existência de cerca de dez tipos de chá verde, apesar de a folha ser sempre a mesma, é a época e a maneira como são colhidas. Quanto mais jovens as folhas, menos amargo será o chá depois de pronto.
“Ao beber chás de folhas jovens, como o gyokuro ou o sencha de qualidade, aprecia-se o sabor suave e a fragrância dessas folhas”, afirma Atsushi Oka, porta-voz da Organização Mundial do Chá Verde. “Já no caso do sencha comum ou do bancha, sente-se mais o sabor adstringente. E, no do genmaicha, principalmente o aroma.”
É por isso que o chá de primeira colheita - ichiban cha -, colhido na primavera, é o mais valorizado. Pode custar até 10 mil ienes (cerca de R$ 200). No inverno, a folha concentra mais nutrientes e tem sabor mais intenso. Há também colheitas no verão (junho) e no outono (outubro). Portanto, fique atento às datas antes de comprar.
Maccha
Cultivado da mesma forma que o gyokuro, é transformado em pó, o que o deixa mais encorpado. Deve ser saboreado assim que é preparado - quente ou frio. Na cerimônia do chá costuma ser bebido logo depois do consumo de um doce, o que o torna mais "fácil" de tomar. Serve para o preparo de bolos e doces. Há, basicamente, dois tipos de maccha, o forte, de cor escura e menos amargo, e o fraco, amargo e de cor mais clara. Delicado, pede armazenamento cuidadoso e consumo rápido.
Preparo
O pó deve ser diluído em água quente. A quantidade depende do gosto de quem vai consumi-lo.
Gyokuro
De cor mais escura, tem aroma e sabor doces, conseguidos por meio da cobertura parcial das folhas, durante o cultivo, para evitar a luz do sol. É o chá de melhor qualidade, apreciado em momentos especiais.
Preparo
Para fazer 60 ml, usam-se 10g, a uma temperatura de 50°C a 60°C, por 2 minutos.
Bancha
Por ser feito com as folhas maiores - colhidas no verão e no outono -, é mais amargo e encorpado que as outras variedades. Além de deixar um sabor refrescante na boca, facilita a digestão, principalmente depois da ingestão de comidas gordurosas. Antigamente, era o tipo mais consumido no Japão, apesar de sua qualidade ser considerada inferior.
Preparo
Para 15g, usam-se 650 ml de água, a uma temperatura de 100°C por 30 segundos.
Sencha
É o chá mais consumido no Japão. No Brasil, é servido nos melhores restaurantes de comida japonesa. Tem folhas da primeira colheita, ou seja, são novas e de uma coloração verde-clara e viva. O sabor é suave e extremamente refrescante. É um bom acompanhante para refeições, especialmente de alimentos secos e senbei (biscoito fino de arroz). O nacional também pode ser encontrado com o nome "chá verde extra". É ideal para "se iniciar" no chá verde.
Preparo
Para 6g de sencha de alta qualidade usam-se 180 ml de água a 70°C por 2 min. Para 10g do comum, usam-se 450 ml de água a 90°C, por 2 min.
Genmaicha
Trata-se da mistura de sencha e/ou bancha com arroz torrado. Tem aroma inconfundível, sabor parecido com o do chá mate e é perfeito para acompanhar um lanche rápido e tira-gostos, especialmente os japoneses, como o okaki (feito de arroz e algas).
Preparo
Para 15g usam-se 650 ml de água, a uma temperatura de 100°C por 30 segundos.
Nesta cerimônia, o mundo não entraReceber um convite para a cerimônia do chá é como ser chamado para deixar o mundo exterior para trás, à medida que você abre o portão e pisa na primeira pedra do jardim japonês que aguarda os visitantes na entrada.O tatame da sala lembra o contato com a natureza, assim como o arranjo floral e a pintura pendurada num canto da sala, únicas companhias para a chaleira, que solta sua fumaça poética e vagarosamente, em uma outra marcação de tempo.
O anfitrião saúda os convidados e entra com os utensílios. Pode se sentar da maneira japonesa, "seiza", ou em bancos ocidentais. Enquanto o convidado saboreia o doce tradicional japonês, o anfitrião segue os movimentos exaustivamente aprendidos. Purifica com um lenço o pote guardião do macha (natsume), a colher de bambu para pegar o chá (chashaku) e o chasen (usado para misturar o pó na água).Ele limpa a tigela do chá (chawan), usando água quente e um pano dobrado ritualmente. Um montinho de chá é colocado da maneira mais natural possível dentro da tigela. Depois de derramar água quente em cima, mistura-se tudo com o chasen, com movimentos também aprendidos com muito treino.O anfitrião oferece a tigela ao convidado, que agradece com uma reverência. Embora não tome o chá, o anfitrião deve compartilhar o sentimento de pureza e gratidão com o convidado.
Há técnicas de cerimônias do chá muito mais complexas e dedicadas a ocasiões especiais, incluindo até mesmo refeições. A chegada das estações do ano, por exemplo, costumam ser comemoradas, assim como o ano-novo.
Fonte: Estado de São Paulo por Paula Moura
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